Durante mais de 20 anos, Amaro Domingues, mais conhecido como Seu Amaro, idealizou, fundou e administrou a Vila Olímpica na Maré. Ano passado, o líder comunitário faleceu deixando uma trajetória de lutas e conquistas. Para homenageá-lo, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, autorizou a mudança do nome para Vila Olímpica Municipal Seu Amaro, em decreto publicado no diário oficial do município.
“A Maré teve várias lideranças, inclusive meu pai, mas o Seu Amaro é difícil de competir. Quase tudo que a Maré tem, foi alcançado com a participação dele”, diz Milton Pereira, mais conhecido como Menininho, liderança local.
Houve cerimônia de mudança de nome, com direito a banner e placa comemorativa com a presença de moradores, lideranças, alunos, funcionários e representantes da Prefeitura. O evento contou com a apresentação dos alunos da oficina de zumba e do coral de crianças da vila olímpica.
Inspirado em Seu Amaro, Cristian Nacht, o novo diretor, fez questão de enaltecer o antecessor. “Seu Amaro chegou na Maré com 23 anos. O diferencial era a paixão pela justiça social. Lutou sua vida toda. Foi uma pessoa sem posses e poder, mas foi um exemplo. Durante sua gestão a vila olímpica foi levada a prova várias vezes, mas com honestidade seguiu.”
Outro que prestigiou o evento foi Isaac Nunes, presidente da Associação de Moradores do Morro do Timbau. “É uma vida que ajudou crianças, adolescentes e adultos. Merece essa homenagem, pois foi um ícone.”
Entre as autoridades municipais, Diego Vaz, subprefeito da Zona Norte, destacou o papel fundamental da Vila Olímpica para a Maré. “A Prefeitura não pode ficar ausente de equipamentos como este. A Vila Olímpica Municipal Seu Amaro não pode ficar fechada, pois é importante para toda a população da Maré, em especial para as crianças.”
“As vilas olímpicas sofrem com o vai e vem dos prefeitos. Não podemos tirar recursos de locais como este. O Seu Amaro defendeu o equipamento, foi um líder comunitário, com grande dedicação, por isso é uma justa homenagem”, prometeu Pedro Paulo, Secretário de Fazenda e Planejamento.
“Não tem quem venha aqui e não se apaixone por esse espaço. Queremos essa vila olímpica cada vez melhor. Renovamos o contrato em dezembro e agora vamos implantar a culinária solidária e a revitalização da horta da vila olímpica. Hoje é um dia de alegria, uma homenagem a essa pessoa que tive o prazer de conhecer, justíssimo o tributo”, disse em seu discurso, Guilherme Schleder, Secretário Municipal de Esportes.
Ao final, seguindo o protocolo da cerimônia, foram retirados os panos que cobriam o banner e a placa comemorativa. Os presentes foram agraciados com bolo e um exemplar do livro que conta a história de Seu Amaro.
Histórico do Amaro da Maré
Nascido no interior do município de Campos, em 1962, após uma remoção, veio morar na Nova Holanda, na antiga Rua Cinco, quando parte da favela ainda era formada por mangue. Na sua vida teve como marco a Fundação da Unimar (União das Associações de Moradores da Maré), com outras lideranças. Depois desse passo, foi até Brasília reivindicar a criação da Vila Olímpica da Maré, em 1995, onde foi recebido por Pelé, que na época era ministro dos esportes. Foi idealizador do equipamento municipal e do Campus Educacional da Maré.
Em 1998, uma das reclamações era que ninguém dava emprego para moradores da Maré. Então, por meio da Coopjovem Maré, que ele presidiu por oito anos, conseguiu uma parceria de serviço de limpeza com o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Além disso colaborou para a criação da Associação de Moradores da Nova Maré. Ele chegou a receber a medalha Pedro Ernesto e teve sua vida contada no livro Amaro da Maré, da escritora Regina Zappa. Seu Amaro faleceu em julho de 2021, aos 88 anos.